Escrito por Dr. Eduardo Lagonegro
Os cientistas ao estudarem o modo como o vírus HIV afeta as células de defesa do sistema imunológico, em um primeiro momento, desenvolveram duas categorias principais de drogas que inibem a multiplicação do HIV – os inibidores de transcriptase reversa e os inibidores da protease. Os medicamentos pertencentes a essas categorias, quando usados em combinação, ficaram conhecidos popularmente como “coquetel”, ou tecnicamente como antirretrovirais. Essas medicações provocaram uma grande alteração no curso natural da infecção pelo HIV. Uma vez iniciado o tratamento, a quantidade de HIV no sangue diminui, permitindo a recuperação imune. Dessa maneira, afastando a probabilidade de doenças oportunistas e outras danos à saúde.
O coquetel normalmente é composto por três drogas antirretrovirais e foi consagrado em 1996. Uma combinação eficaz na diminuição da carga viral para HIV, também é conhecido como terapia antirretroviral altamente potente.
Nos anos subsequentes cresceram o otimismo e as expectativas em relação ao futuro. Em 1999, o governo federal divulgou que o programa de acesso aos antirretrovirais que reduziu em mais de 50% o número de mortes, e em quase 80% a ocorrência de doenças oportunistas. Vale lembrar que desde novembro de 1996, vivemos um panorama em que o governo brasileiro, por meio da Lei Federal 9.313/96, disponibiliza e garante o acesso universal e gratuito aos antirretrovirais.
Os Antirretrovirais
Nos últimos anos foram criadas novas classes de medicamentos antirretrovirais. Nesse contexto, surgiram os inibidores de fusão, os inibidores de entrada e os inibidores da integrase. Além disso, novos medicamentos inibidores da protease e da transcriptase reversa, com perfis de resistência diferentes dos anteriormente lançados, permitindo utilização com bastante sucesso em pacientes cujo tratamento já apresentaram falhas terapêuticas. Hoje contamos com 20 medicamentos antirretrovirais no Brasil, e sendo que todos são disponibilizados pelo Ministério da Saúde.
Os antirretrovirais não trazem a cura da doença, mas trazem aumento de sobrevida para pessoas que vivem com HIV/AIDS. Diminuem a carga viral, aumentam a imunidade, e com isso permitem que o cidadão viva mais e melhor, prosseguindo com seus planos de vida.
Quando uma pessoa está infectada pelo HIV e não está tomando o coquetel, o vírus se reproduz, habitualmente, em milhares de cópias ao dia. Praticamente todas as mutações possíveis são geradas no HIV diariamente, só que elas não se fixam. Pode-se dizer que o coquetel está fazendo efeito quando a carga viral no sangue está indetectável. Nesta situação a replicação viral, e a ocorrência de eventual mutação, está suprimida sob forte pressão seletiva exercida pelos medicamentos do coquetel. Isto não dura para sempre, e o tratamento pode falhar em algum momento deixando de exercer esta pressão seletiva, permitindo que uma ou mais mutações se fixem e passem a dominar praticamente toda a replicação viral gerando resistência a determinados medicamentos do coquetel.
Atualmente o esquema antirretroviral preferencial utilizado no Brasil, consiste em uma combinação de dois inibidores de transcriptase reversa e um inibidor de integrase, em apenas uma tomada de dois comprimidos ao dia e apresentando baixa toxicidade. Em alguns casos específicos podendo ser apenas um só comprimido composto por um inibidor de transcripatse reversa e um inibidor de integrase combinados.
Adesão ao Tratamento
Existem dados relacionados às mutações e resistência viral que conhecemos, e outros que ainda não conhecemos. No momento os fatores mais conhecidos apontam para a aderência ao tratamento, ou seja, a capacidade e habilidade em tomar os medicamento nos horários e doses recomendadas. O uso do coquetel de forma irregular como esquecer doses, adiantar ou atrasar horários, não tomar no final de semana, fazem com que o HIV volte a se multiplicar. Neste processo, quando ocorre uma repetição sistemática, o vírus pode incorporar as mutações produzidas em um determinado cenário de uso de medicamentos.
Não raramente, assisto pacientes com alguns “vacilos” na tomada dos medicamentos que muitas vezes remetem à vida pessoal, aos hábitos do dia a dia, festas, emprego ou viagens. A grande maioria relacionado ao modo de viver. As pessoas não querem ser flagradas tomando remédio, e elas tem toda razão.
Hoje o que está definitivamente em alta é a criatividade e a naturalidade em tomar o coquetel. Seja onde for e em que horário for, tome seus medicamentos. Quanto mais corretamente tomá-los, melhor e maior será a durabilidade do tratamento. Não se intimide em tomar os medicamentos na frente das pessoas, afinal existem medicamentos para tantas situações, se for o caso invente uma, pois apesar do preconceito relacionado as pessoas vivendo com HIV/Aids ter diminuído muito, ele ainda está presente em nossa sociedade. Agora se isso não for um problema pra você e se alguém perguntar fale claramente do que e trata.
Agora, se existe algum problema, se houverem questões pessoais, pondere com seu médico. Levante as questões que o deixam desanimado com o tratamento, como eventuais efeitos colaterais, comodidade posológica, horário e/ou restrições colocadas por alguns medicamentos. Essas e outras questões devem ser esclarecidas e buscadas melhores alternativas para o seu tratamento. Não tenha receito de abordar qualquer questão com seu médico, será muito útil ir logo ao ponto.
Isto posto, você pode se perguntar: Qual é o melhor tratamento?
Existem as recomendações padrão para tratamento do HIV, mas o melhor tratamento vai ser aquele que melhor se adaptar a vida e ao organismo de quem está tomando.
Levar seu tratamento numa boa, tomando os medicamentos nos horários e dosagens recomendadas, e principalmente permitindo-se ser ajudado. São alguns ingredientes básicos para êxito no seu tratamento e ter muitos anos pela frente pra curtir tudo o que a vida coloca ao seu dispor. Cuidar-se nunca esteve tão em alta, afinal de contas, viver ainda é um grande barato.